domingo, 4 de outubro de 2009

vÂniA kOstA



Nome: Vânia Costa
Cidade: Braga
Blog: dedalnodedo.blogspot.com
Flickr: flickr.com/photos/vaniakosta





Como descreverias o teu trabalho?

Embora sejam diversos os formatos sobre os quais me expresso, vou falar apenas do universo de pano que me trouxe até aqui. Se pensar nos ingredientes que fazem parte deste universo de pano, descrevo-o como um preparado de etusiasmo, intuição, ternura e nostalgia que se materializa numa verdadeira entrega e, consequentemente, em cada pormenor das minhas criações. Se pensar no processo, descrevo-o como uma viagem ao interior do meu coração, às memórias, ao e(terno) desejo de chegar até às pessoas e de lhes falar através da linguagem dos
afectos.



Como é que tudo começou?

É difícil identificar esse instante. Acredito que o «começar» despertou numa qualquer brincadeira de infância e que, embora sem consciência dele na altura, se terá desenvolvido ao longo do tempo e hoje resulta em diversos gestos criativos. As brincadeiras de infância são excelentes formas de experimentação e descoberta. Se alguns de nós continuam a «sonhar» mesmo depois de crescidos é porque somos capazes de reencontrar encanto nas coisas mais simples que nos rodeiam e isso dá-nos alimento para sonhar e criar.

Recordo-me que, desde muito pequenina, deliciava-me com os momentos em que criava pequenas coisas com os materiais mais simples que encontrava. Lembro-me de «descascar» a vassoura da minha avó para fazer anéis rebuscados para oferecer (os primeiros acessórios de moda). Lembro-me de, sorrateiramente, ir tirando galões, linhas e pedacinhos de tecidos da caixa de costura da mamã para, às escondidas, fazer as roupas para as minhas bonecas. Até ao dia em que não resisti e, em frente às amigas, disse que sabia costurar e tentei fazer um vestido para mim com um tecido azul turquesa belíssimo que a mamã tinha guardado (os primeiros passos na costura). Lembro-me das bonequinhas que fazia com pedacinhos de lã para oferecer à minha tia e que ainda hoje as tem penduradas na chave da cómoda (as primeiras personagens). Lembro-me da autorização para pintar, desenhar e escrever numa das paredes do quarto ter proporcionando momentos fantásticos de divertimento e criação, em que as amigas também adoravam participar (algumas ainda tentaram fazer na sua casa, o que lhes valeu uma bela palmada). Lembro-me da caminha de madeira para as bonecas que o papá me ajudou a fazer na oficina do avó ao sabor do cheiro dos vernizes e do ruído das goivas a esculpir as madeiras. Tantas lembranças, que fazem hoje parte de mim e de tudo o que faço.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Na altura em que pedi ajuda para criar o blog tive de pensar rapidamente num nome. Entre risadas e alguma pressão (porque não tínhamos muito tempo) ocorreu-me dedal no dedo. De qualquer forma, é como Criações vÂniA kOstA que todos reconhecem o meu pequeno universo de pano.

Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

A busca incessante da felicidade através do simples gesto criativo. A magia de partilhar quem somos simplesmente através da linguagem dos afectos. Neste caso, «materializados» nas diversas criações de pano que acabam por ser um prolongamento de mim mesma e que os outros podem acolher e cuidar.

Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Posso dizer que neste momento me absorvem completamente. No entanto, existem outros projectos que volta e meia volto a abraçar e tantos outros a aguardar o seu tempo.



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

A inspiração pode surgir de simples memórias, da beleza das coisas simples que nos rodeiam, de objectos ou palavras que são por si só muitas vezes o bilhete para uma divertida viagem com os diversos materiais espalhados sobre a mesa de trabalho ou mesmo pelo chão [materiais que a azeitona também ajuda a espalhar!]. Ela também é claramente a inspiração para muitas das minhas criações.

No entanto, foi uma simples personagem de pano que fiz para oferecer à minha irmã que impulsionou este projecto. Naquele momento, senti que aquela personagem de pano seria a melhor forma da minha irmã levar consigo um pedacinho de mim para a viagem que fez no âmbito do projecto Sócrates/Erasmus. Desde então nunca mais deixei de acrescentar pormenores e personagens a todo este universo, hoje salpicado de cor, de olhares curiosos e ternos contadores de histórias.



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Preferencialmente em retrosarias e lojas. Nunca comprei nada pela internet. «Ainda sou do tempo em que...». Tenho de tocar e sentir as texturas dos materiais, o que não quer dizer que um dia não me possa render aos materiais de uma loja on-line.

Algumas criações são também confeccionadas a partir de matérias-primas cedidas por empresas e lojas, abraçando a ideia de re-aproveitar materiais. Outros pequenos tesouros como tecidos antigos, galões, botões e outros são trazidos por vizinhas, amigas, familiares... pessoas que conhecem o meu trabalho e às vezes tocam à campainha com um saquinho para mim «Achei que lhe poderia fazer jeito!».

Existem ainda encomendas confeccionadas a partir de tecidos que, por diversas razões, têm uma ligação forte com as pessoas que as encomendam. Estes pedidos tornam-se igualmente especiais para mim. Aqui fica um muito obrigada a todos!



De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Todas as fases do processo são importantes. Desde a idealização da peça, que nasce muitas das vezes no instante em que a tesoura, as linhas e a agulha dançam sobre o pedaço de tecido colocado sobre a mesa; à aplicação dos pormenores que dão uma expressão especial às peças e as fazem falar connosco; ao registo fotográfico, muitas das vezes em ambientes criados propositadamente para o efeito, como os famosos e divertidos passeios pelos recantos do Bom Jesus e da cidade; à criação de textos que complementam as peças até ao momento da partilha com outros olhares.



Como é que divulgas o teu trabalho?

Comecei por divulgar este universo de pano em 2005 numa exposição na Livraria Centésima Página, aqui em Braga, na altura em que inaugurou o novo espaço na Casa do Rolão. Desde então, sinto uma ligação com este espaço. Frequentemente, apresento lá as novas criações e exponho outros trabalhos, nomeadamente na área da ilustração e da pintura.

Quando comecei a pensar seriamente neste projecto como uma forma de vida tive a oportunidade de divulgá-lo na Feira de Artesanato de Vila do Conde, em 2007. Embora participe em poucas, algumas feiras de artesanato têm sido um óptimo meio de divulgação e comercialização das minhas criações. Mas tenho um carinho especial pela Feira de Vila do Conde. Foi a primeira vez que tive um contacto muito próximo com as pessoas, além de ter conhecido também artesãos com extraordinárias e deliciosas histórias de vida.

O blog também tem sido um excelente formato de divulgação, sobretudo porque mantém as pessoas actualizadas sobre as criações que vão surgindo, as iniciativas onde vou participando, as exposições que vou organizando e os locais/lojas por onde as minhas criações vão sendo acolhidas.



A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Claro que sim. O blog tem sido um livro aberto, onde partilho cada pormenor das minhas criações enquadradas em episódios que fazem parte dos meus dias. Palavras e imagens que são complementos essenciais. Porque sinto que tudo faz parte de um todo e é este alinhamento que me encanta e que tem conquistado novos olhares e sorrisos.

O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Tenho «descoberto» criações e autores simplesmente extraordinários. Sinto que comuniquei rapidamente com o universo de alguns deles, talvez porque também me reencontrei na sua linguagem estética. Mas esta pergunta remete-me infelizmente para o outro lado, o mais triste. Senti imensa confusão quando me confrontei pela primeira vez com imitações. A complexidade que senti foi a mesma que sentiria se tivesse visto algo muito próximo do meu universo. No início tudo isto me causava imensa confusão, mexia demasiado comigo, mas aprendi a lidar com este sentimento.

As criações «falam-nos», não só através da linguagem estética que possuem, como pelas histórias que existem por detrás de si. São estes «pormenores» que tornam algumas criações especiais e verdadeiramente «nossas» e este encanto reconhece-se e diferencia-se facilmente de outros trabalhos.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Sugiro apenas que sejam sempre verdadeiros consigo próprios.

Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Ainda tenho de conhecer alguns mais...

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Tantos que não daria para enumerar, mas posso dizer que todos eles caminham para o mesmo objectivo continuar a alimentar e acolher a felicidade.

4 comentários:

maria vinagre disse...

Olá a Vânia tem uns trabalhos que são maravilhosos, muitos parabens. bjks.

S. M. disse...

Só queria mandar um beijinho à Vânia que tive o prazer de conhecer pessoalmente na FIL Artesanato, e de quem sou admiradora. A Azeitona que tenho cá em casa também manda saudades...
Parabéns, e bom trabalho!

miosotiis disse...

Um trabalho que não conhecia e que achei de uma ternura imensa!

*

luciari disse...

Gostei muito do seu trabalho. Já o conhecia (através da Centézima Página)e agora, tive o prazer de a conhecer pessoalmente, na Feira de artesanato do Estoril. Acho que consegue(iu) ir ao encontro da criança que habita dentro de nós e fazer renascer aquelas mimosas expressões que tanto nos conforta.
Obrigada por me oferecer este delicioso bem-estar.Irei em breve a Braga e comprar uma saloiazinha...
até breve, lúcia ribeiro