domingo, 31 de janeiro de 2010

Machado



Nome: José Machado
Cidade: Vila do Conde
Blog: ecosdooficio.blogspot.com



Como descreverias o teu trabalho?

Gosto de pensar o meu trabalho Machado como uma tentativa de criar sapatos para quem quer ter os pés no chão e o coração nas nuvens.



Como é que tudo começou?

Desde sempre que senti uma enorme necessidade de ir criando as minhas coisas nos mais diversos materiais. Como o meu pai é sapateiro a minha ligação a este ofício é muito profunda e afectiva. Desde criança que tive um contacto muito próximo com estas ferramentas, materiais, cheiros e técnicas e a enorme sorte de poder ir brincando com todas essas coisas, acompanhado cumplicemente por um mestre.

No entanto, a ideia Machado só começou a ganhar corpo muito mais tarde após um convite do grupo Marionetas Mandrágora, em 2006, para a criação de alguns sapatos medievais para o espectáculo O Mistério de Adão. Como tive que fazer alguma pesquisa, acabei por perceber que sabia fazer algumas coisas, mas que na verdade sabia muito pouco sobre a história deste ofício e foi aí que senti uma enorme vontade de não mais parar…



Como escolheste o nome do teu projecto?

Pelo método clássico e antiquado de ir buscar o apelido de família, o que para mim era importante, pois de alguma maneira é o meu tributo a esta herança familiar que recebi e que começou com o meu avô há mais de um século.



Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

É muito estimulante para mim poder pegar em técnicas, materiais e soluções quase esquecidas e outras mais contemporâneas e poder a partir daí ir dando corpo às minhas ideias. Depois há também aqui uma questão de resistência, que de alguma maneira o trabalho dos artesãos representa na actualidade e na qual me revejo por completo, contra esta ordem global onde o valor real do trabalho se perdeu quase por completo a favor da lógica taylorista massiva de produção, quase sempre baseada e nivelada por baixo e posta à venda num qualquer shopping perto de si.



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

A tempo inteiro só mesmo a vontade de criar, recriar e arriscar, quer seja um desenho de luz para um espectáculo, um adereço de cena, uma máscara ou um simples par de sapatos.

De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Um pouco de todo o lado. Gosto particularmente de criar ligações improváveis. Por exemplo, neste ano em que se comemoram os 100 anos da República gostava de criar uns Machado que de alguma maneira reflectissem isso.



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Felizmente, no Porto ainda encontro algumas velhas casas da especialidade onde consigo quase tudo o que necessito.

De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Como por norma o meu trabalho passa por inúmeras fases, algumas das quais complicadas, é muito bom chegar ao fim e ver as peças terminadas. Outro momento muito bom é quando após um determinado acidente ou acaso se descobre outro caminho...



Como é que divulgas o teu trabalho?

Sobretudo através da internet.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Como é óbvio, o papel principal. Neste domínio, a próxima etapa é dentro de pouco tempo passar a vender quase em exclusivo através da plataforma etsy.com ficando as encomendas restritas ao trabalho para a cena, sobretudo teatro e dança.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Para começar não gosto muito do termo e da necessidade de criar mais categorias, pois no fundo é de artesanato que estamos a falar. Como já disse anteriormente, penso que a atitude cada vez mais crescente de gente a criar artesanato representa também uma vontade de mudança face a esta lógica dominante e barata de massificação e é isso sobretudo que me apraz registar. Obviamente há também aqui uma questão de moda e de muito oportunismo pelo meio, mas isso vai ser sempre assim e penso que nem devemos perder tempo com isso.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Não gosto particularmente de dar conselhos. O meu caminho tem sido sobretudo de muito trabalho. Aquela conhecida frase do 99% de transpiração e de 1% de imaginação para mim faz todo o sentido.

Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Como é natural são muitos e, portanto, vou concentrar a minha escolha sobre o Senhor Fernando Silva, um artesão que conheci há pouco tempo e que ainda não tem existência na internet mas que vive e trabalha em Valbom, uma freguesia de Gondomar, e que - por acaso - além de ser sapateiro, faz umas esculturas em madeira e pedra numa estética popular e vernácula que muito admiro.

Convido todos os interessados a passar em Valbom na rua dos Ourives, perguntarem pelo Senhor Fernando e terem o privilégio de ver a obra deste homem e sobretudo a forma como ele fala do trabalho que lhe nasce das mãos como a água de uma montanha…



Quais são os teus sonhos para o futuro?

Gostava particularmente de poder vir a trabalhar para a indústria cinematográfica.

6 comentários:

made in ♥ love disse...

e s p e c t a c u l a r...


Um beijinho
Eduarda
be in ♥ love

maria madeira | antónio rodrigues disse...

Que boa surpresa saber que o Machado vive aqui ao lado! Mais uma entrevista fabulosa! Já conhecia o trabalho, não o blog, esta foi uma descoberta preciosa. :)*

Gloria Leandro disse...

che belle scarpe!!!

miosotiis disse...

Que peças lindas! :D

Vera Espinha disse...

Fiquei fascinada por estes sapatos! Já tinha visto algures uma imagem duns sapatos destes, mas não me lembro onde nem quando, vou guardar o link, é um excelente trabalho.
Parabéns ao criador!

eu disse...

Parabéns pelo trabalho "vidas crafty". Não conhecia muitos dos artesãos que por aqui têm passado e fico feliz por Portugal ter tanto talento escondido.

bj.