domingo, 31 de outubro de 2010

Helena Zália


Nome: Helena Zália
Cidade: Guimarães e Gafanha da Nazaré
Blog: 2zai.blogspot.com
Flickr: www.flickr.com/photos/zai-zai


Como descreverias o teu trabalho?

Provavelmente precisaria de distância emocional para descrever o meu trabalho. Sei que é algo que faz parte de mim, que é intrínseco à minha (sobre)vivência. É uma procura constante de satisfação interior, de evolução, de experimentação, de superação…

Porém há o testemunho dos outros, e esses outros dizem-me às vezes que, quando olham para algumas peças minhas, sobretudo se as têm em casa, sentem uma energia positiva que reconforta e alegra. Realmente não sei se é verdade ou não, mas é uma honra ouvir estas palavras. Dão sentido ao que faço.



Como é que tudo começou?

Desde sempre senti o apelo do desenho, da pintura, das imagens, das cores, das formas, dos objectos, dos materiais. E desde que me lembro que existo que tenho vontade de construir/realizar/transformar alguma coisa. Vontade esta que sempre materializei desde a minha infância.

Quando comecei a produzir de uma forma mais consciente, dediquei-me à pintura e à fotografia para meu usufruto ou daqueles que me estavam próximos, divulgando apenas numa ou outra exposição. Posteriormente, e após a participação com o projecto Mutante (desenvolvido na Universidade de Aveiro no curso de Design de Comunicação) numa exposição integrada no Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, onde promoviam o artesanato aliado a um projecto de design, comecei a produzir manualmente o referido projecto, assim como alguns sacos e candeeiros que comercializei numa loja que já não existe em Guimarães. Depois desta experiência estabeleci contactos com outras lojas e continuaram a surgir novos projectos.

Porém, as minhas criações que são mais conhecidas, as bonecas, nasceram no Verão de 2003, como uma procura obsessiva de cor, num período muito marcante da minha vida.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Neste momento adopto o meu nome, representa aquilo que sou.

Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

Realmente não sei se o que faço são crafts, não gosto muito desta palavra, nem de rotular o meu trabalho. É uma necessidade orgânica e intuitiva, que surge por si. É sobretudo a forma que encontrei para me expressar e de me relacionar comigo e com tudo/todos que me rodeiam.



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

A tempo inteiro sou professora de Educação Visual e Tecnológica, pelo que as aulas e toda a orgânica associada preenchem a maior parte dos meus dias. No entanto, encontro sempre tempo/espaço para desenvolver os meus projectos, para estar com a família e amigos, para ir ao cinema, ao ginásio, ver o mar ao fim da tarde, ler um livro... mas como gostava que os dias tivessem 48 horas para fazer tudo o que desejo.



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Há alguma inspiração que não controlo, que não sei de onde vem. Certamente vem de tudo o que vejo, o que sinto, o que vivo. Há tempos, estive a observar alguns dos meus trabalhos e apercebi-me que as cores que geralmente utilizo são também as cores usadas no artesanato e folclore minhotos, esta escolha não é intencional, mas o facto de ser minhota deve conduzir-me provavelmente à utilização de cores intensas e alegres, ou talvez não, poderá ser simplesmente um gosto pessoal. Aliados a estas circunstâncias, a minha formação académica e os cursos livres, workshops e acções de formação que frequentei/frequento, assim como o contacto com pessoas criativas, nomeadamente os meus alunos, dão-me bases e experiências que me permitem explorar vários domínios.

No entanto, acredito que a maior parte da inspiração vem com o trabalho, a persistência e a dedicação.



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Depende do que faço e dos objectos/artefactos que me instigam a transformar e criar, mas geralmente encontro em farmácias, papelarias, retrosarias, lojas de ferragens e de bricolage.

De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Todo o processo de produção pode entusiasmar-me ou o mesmo processo pode entediar-me, depende sempre do envolvimento que cada projecto suscita, se o que estou a fazer me está a agradar ou não. Quando não está a sair como quero o mais provável é interromper e certamente nunca mais voltar a ele... ou não.



Como é que divulgas o teu trabalho?

Faço-o através de amigos, em algumas lojas, na web (blog, flickr e twitter) e em exposições.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Sim, sem dúvida. Alargou o número de pessoas que conhece as minhas criações e abriu portas para desenvolver determinados projectos. E à medida que o número de projectos cresce, cresce também o número de pessoas que conhecemos e a probabilidade de participarmos em novos projectos. É como uma bola de neve.

Mas a internet já foi mais importante na divulgação do meu trabalho, uma vez que hoje já não sou tão dedicada à actualização do meu blog e da página do flickr, como antes. Mas foi sem dúvida o grande impulsionador de tudo o que está a acontecer.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Num tempo de globalização como aquele que vivemos, sentimos por um lado a necessidade de fazer parte desta bola gigante, no entanto, a possível ameaça de perda de identidade incita-nos a procurar a nossa individualidade, a nossa cultura, as nossas raízes, e penso que a recriação das técnicas artesanais é uma forma de nos encontrarmos. Neste sentido, considero que é uma mais-valia para todos, pois estamos a valorizar e regenerar métodos de trabalho ancestrais e a revitalizá-los. E temos ainda ao nosso alcance a possibilidade de o divulgarmos a uma escala universal.

Por outro lado, esta mesma possibilidade de comunicação global pode conduzir-nos a vias fáceis de criação que se baseiam na imitação e, infelizmente, no lugar de criações únicas surgem criações em série, com fragilidades conceptuais, pois não nasceram das mãos daqueles que as idealizaram.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Que não caminhem apenas até à Rua da Cópia ou à Rua do Plágio mas empreendam uma caminhada mais longa pelas Ruas da Investigação, da Curiosidade, da Experimentação, do Conhecimento, do Trabalho, da Persistência. Esta última é mais dura e interminável, mas certamente mais gratificante e levará a um estilo mais forte e personalizado. Ao mesmo tempo sugiro que não se limitem a ver apenas trabalhos manuais, se esse é o propósito, mas «vejam» de tudo com todos os sentidos - pintura, escultura, arquitectura, música, cinema, folclore, artesanato, literatura, natureza, pessoas... enfim, que sintam o pulsar do que nos rodeia, pois a inspiração poderá surgir de onde nunca se imaginava.



Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

No domínio artístico há muitas pessoas cujo trabalho realmente admiro e que me inspiram, independentemente de serem crafters ou não. Os meus favoritos são sempre aqueles que apresentam um trabalho original, com forte personalidade e que por isso se demarcam e destacam dos demais, e que se impõem por si.

Quais são os teus sonhos para o futuro?

O meu maior sonho é poder manter a capacidade de sonhar.

8 comentários:

buebau disse...

As peças são lindas e inconfundíveis :)

isabel f. disse...

Adoro o trabalho da Helena :)))
e é sempre surpreendente!
bj

helena zália disse...

Muito obrigada Elsa :))
Bjs

closet handmade disse...

mágico!

Sofia Monteiro disse...

Estes trabalhos são mesmo especiais. A Helena tem um talento do tamanho do Mundo!

Unknown disse...

sempre um prazer "ouvir" a Helena.

Carolina Bernardo disse...

Muitos parabéns Helena pelo conceito do trabalho que desenvolve.
Já li bastantes entrevistas neste e noutros blogs e esta foi sem dúvida aquela com que mais me identifiquei. A Helena usa expressões que eu raramente ouço, mas que passo os dias a dizer, tal como "não gosto de rotular as coisas". Sou designer sim, e dizem-me que faço artesanato ou crafts. Que interessa isso?
Sou a Carolina, faço coisas com coisas que têm óptima aceitabilidade, fazem pessoas felizes e a mim nem se fala!

As inspirações vêm do dia a dia, das vivências, da leitura e do contacto com pessoas. Copiar de facto é fácil e comprar livros também, mas eu ainda vivo com a ilusão (talvez seja só mesmo isso) que esse trabalho não vai durar muito tempo e tal como surge o projecto rapidamente de dissipa.

Agora vou espreitar o blog!
um beijinho
Carolina

PomponsParty disse...

ame su trabajo (lovely work)