Nome: Ingrid Barroso
Cidade: Porto
Blog: missneedledesign.wordpress.com
Loja online: missneedledesign.etsy.com
Como descreverias o teu trabalho?
Quase todo o meu trabalho tem como base técnicas tradicionais de cartonagem e encadernação. A partir dessas técnicas, que muitos de nós aprendemos ainda na escola, reinvento formas, misturo materiais, cores e texturas. Crio cadernos, caixas, agendas e álbuns únicos, com detalhes e carácter muito próprios.
Como é que tudo começou?
Desde criança que me lembro do gosto pelos tecidos, pelas linhas, pelos lápis de cor, pelos cadernos… E pelas caixas: de costura, de fotografias antigas, de recordações e de objectos esquecidos pelos adultos, que para mim tinham o encanto de um tesouro escondido.
Recordo-me de ir para o sótão, de vasculhar gavetas, caixotes e frascos, de retirar tudo do seu interior, observar cada detalhe de cada objecto e depois voltar a colocar tudo no devido lugar… E voltar meses depois e voltar a contemplar tudo como se fosse a primeira vez. Sempre fui muito apegada ao passado, a memórias e recordações. Guardo cadernos de viagem, agendas que se transformam em diários, caixas com conchas, pedras, flores e objectos que marcaram um determinado instante.
Assim, foi quase inato começar a criar os meus próprios «Guardadores de Memórias», objectos que acolhem sonhos, pensamentos, fotografias, recordações… momentos. E foi o prazer de estar sempre a criar objectos novos que fez com que os começasse a oferecer a familiares e amigos. Foram eles que me incentivaram a pensar o meu passatempo de uma forma mais séria, e mais tarde, a criar a Miss Needle.
Como escolheste o nome do teu projecto?
As agulhas são uma constante no meu trabalho. São ferramentas essenciais à encadernação tradicional, à costura japonesa e sobretudo ao detalhe de cada peça. Miss Needle também porque através da internet, os nossos trabalhos chegam a todo o mundo e o inglês é o idioma por excelência do mundo virtual.
Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?
É uma distracção, uma terapia… Adoro estar no meio de papéis, tecidos, contas e fitas… É um momento só meu, em que não penso em mais nada a não ser no que estou a criar. Aqui não tenho limites criativos, preocupações, horários. Apenas o gosto de estar continuamente a criar algo novo.
Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?
Não, os crafts não são um trabalho a tempo inteiro. Sou arquitecta de profissão.
De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?
Das minhas memórias, dos livros que leio, das viagens que faço… A inspiração vem também dos próprios materiais com que trabalho, especialmente dos tecidos e papéis. Cada um tem a sua personalidade, a sua força próprias e são essas características que acabam por me ajudar na definição da sua utilização, do seu destino e da sua forma final.
Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?
Encontro materiais para os meus trabalhos em casa, em baús, gavetas e caixas há muito esquecidas… Na rua, em retrosarias antigas, lojas de chitas e de artigos de scrapbooking. Além disso reutilizo embalagens, sacos, papéis de embrulho, fitas e até algumas peças de vestuário. Há ainda as pessoas que conhecem o meu trabalho e que me oferecem papéis, tecidos, botões… Tudo aquilo que sabem que pode ganhar um novo fôlego, uma nova vida através dos meus trabalhos.
De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?
A concretização. O momento em que cada peça fica pronta, em que vejo o resultado final da amálgama de materiais, de texturas e de cores… O instante em que tudo faz sentido e em que cada trabalho adquire a sua própria personalidade, o seu próprio carácter. E depois adoro o momento em que alguém se identifica e se apaixona pelo meu trabalho... É como se se completasse um ciclo. As minhas peças ganham vida nesse momento. Encontram o seu destino nas lembranças e sonhos e fantasias de alguém.
Como é que divulgas o teu trabalho?
Divulgo o meu trabalho no meu blog, em lojas, em algumas feiras de artesanato em que participo e, claro, através dos amigos e do passa palavra.
A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?
Sim! Tem um papel importante na divulgação do meu trabalho e não só… O meu blog é ele próprio um «Guardador de Memórias», dos trabalhos que realizei, muitos deles peças únicas.
O que achas da actual moda do artesanato urbano?
É mais do que uma moda. É uma ocupação que surge da necessidade que muitas pessoas, sobretudo jovens, têm de complementar a sua actividade profissional. Uns encontram no artesanato uma realização e satisfação que não retiram do seu dia-a-dia a nível profissional. Outros complementam o seu baixo rendimento com o extra que o artesanato proporciona. Há ainda aqueles que procuram no artesanato um meio de sobrevivência enquanto procuram um emprego. E finalmente há os que por há tanto tempo, sem sucesso, procurarem um trabalho, se entregam de corpo e alma ao artesanato e para os quais este passa a ser a sua actividade principal. E são estes que por se sentirem realizados, pelo prazer que retiram de uma actividade criativa totalmente livre, que persistem e por isso crescem e evoluem. Para estes é mais do que uma moda, é um modo de vida.
Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?
Fazer o que realmente gosta. Afinal, não é esse o principal objectivo dos crafts? Podermos fazer o que sinceramente nos apetece, criar sem limites… Sermos alheios ao que os outros pensam. Agradarmos apenas a nós próprios… Aos outros, se possível. E sobretudo divertirmo-nos com o que fazemos! Penso que só assim é possível encontrar um estilo próprio.
Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?
Há muitos crafters que admiro, no entanto partilho apenas três, por motivos diferentes: a Keisha Campbell, pelos seus layouts absolutamente fabulosos de srapbooking que me inspiram todos os dias, a Mané Pupo, pela sua generosidade e pelo talento e delicadeza do seu trabalho, e a Ema Carneiro, pela sua criatividade, força empreendedora e companhia em todas as feiras em que participo.
Quais são os teus sonhos para o futuro?
Continuar a fazer o que gosto. Não parar nunca de evoluir técnica e criativamente. E, claro, que os meus «Guardadores de Memórias» cumpram o seu destino e acolham muitos e inesquecíveis momentos!